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Qual a diferença entre tristeza e depressão?

Saiba diferenciar o sentimento comum de tristeza da doença da depressão que requer atenção médica.


Imagine um destes cenários: Um término de namoro, a perda do emprego, um prejuízo financeiro ou até a perda de uma pessoa querida. Qualquer uma destas situações causará um sentimento profundo de tristeza em quem passar por elas. E a tristeza dói. Chega a causar um desconforto físico, como uma sensação de aperto no peito. Parece que o mundo vai acabar e nada mais faz sentido. Agora, imagine este outro cenário: Seu salário mal dá pra pagar as contas, está trabalhando demais, passado pouco tempo fazendo o que gosta, dormindo pouco e se estressado com mais facilidade. Você se pega pensando o quanto você está desanimado com a sua vida, com quem você se tornou, e ainda não consegue enxergar no futuro uma melhora. Um sentimento de impotência que fica rodeando os seus pensamentos e projetando a percepção que você tem de si por um prisma de negatividade.

É muito comum nós nos pegarmos pensando que estamos passando por algum problema sério, e o autodiagnostico é quase sempre o mesmo: depressão. “Eu estou deprimido!”


“Como assim? Todo mundo é tão feliz e está fazendo algo extraordinário e só eu estou deprimido sem fazer nada em casa” pensamos enquanto rolamos as fotos do Instagram.Poxa vida, estou deprimido, todo mundo se deu bem e faz sucesso no trabalho enquanto só eu estou estagnado” diz a nossa mente enquanto passamos pelos feitos profissionais heroicos dos nossos conhecidos no LinkedIn.


É comum vermos as pessoas banalizando a situação de “estar com depressão” para qualquer situação onde ela precisa definir que alguém está triste. Não muito distante dessa realidade, estão aqueles que realmente estão passando por uma depressão e são rotulados como "frescura", "uma tristeza que logo deve passar", e acabam adiando a busca por um tratamento que seria providencial ter iniciado nos primeiros sintomas. Vivemos em um mundo onde a nossa capacidade de ser importante é colocada em prova a todo instante. Fazer sucesso, conseguir comprar, ser influente, ter um corpo ideal, e, no fundo, nós sabemos o quanto é impossível equacionar todas as habilidades que a sociedade cobra. A todo momento somos bombardeados com imagens de pessoas que conquistaram muito mais que nós e estão vivendo um momento muito mais empolgante.


Não surpreende que estamos vivendo a era de maior número de pessoas com transtornos mentais da história! Só para ilustrar, são 12 milhões de pessoas diagnosticadas com depressão no Brasil segundo a OMS. É mais do que a população de países inteiros, algo em torno de 5% da população total! Agora tente imagine quantas são as pessoas que estão vivenciando a tristeza sem um diagnóstico de depressão.


O objetivo deste texto não é discorrer sobre como lidar com a tristeza. Para isso precisaríamos de muito mais tempo, espaço e mente aberta. Vamos tentar elucidar esta, que é uma das mais recorrentes questões no nosso atendimento diário: Como fazemos para diferenciar a tristeza da depressão? Lembrando os cenários que visualizamos no começo do texto. Você acredita que os efeitos das situações são causas para um quadro de tristeza ou depressão?


A resposta talvez te surpreenda:- Depende.


As situações do primeiro cenário são causas para uma tristeza profunda e do segundo cenário uma tristeza constante, porém, em nenhuma das situações existe a garantia de que o sentimento de tristeza evoluirá para um quadro de depressão, bem como não existe segurança de que será somente uma fase passageira.

A coordenadora do Centro de Tratamento Bezerra de Menezes - Luciane Lopes Sanches - explica: “O sentimento de tristeza pode variar em intensidade. Como outros sentimentos, a tristeza diminui com o tempo. Mesmo estando ainda triste, a pessoa consegue se sentir confortável por aqueles ao seu redor, podendo obter um alívio ao compartilhar seus sentimentos com um amigo, por exemplo, gerando um sentimento de melhora”.


Então o primeiro ponto a se observar é quanto tempo este quadro de tristeza está tomando conta do comportamento da pessoa. Em média, após um episódio traumático, ela tende a voltar para o comportamento normal em torno de duas semanas, variando conforme a intensidade significativa do episódio.

A pessoa triste tende a entender o porquê está triste e consegue conversar sobre e se aliviar de algumas formas sobre a situação que está passando. Talvez ela precise da ajuda de uma pessoa específica por alguma questão de intimidade, ou talvez se dedicando à uma atividade que faça sentido terapêutico, a tendência é que ela consiga naturalmente encontrar meios de dar vazão ao sentimento de tristeza que ela vivencia.


Normalmente os quadros de tristeza vão se tomando um outro significado dentro de cada pessoa. Ela pode se transformar em aprendizado, saudade e até mesmo satisfação conforme os acontecimentos posteriores ao estímulo se sucedem. Não é muito difícil encontrarmos histórias daqueles que ficaram tristes por um negócio que deu errado e depois houve a transformação do episódio em aprendizado, ou mesmo daquela pessoa que sofre muito em uma separação e depois percebe que estava em uma relação abusiva e descobre uma vida muito mais interessante após o trauma.


Luciane continua: - “Depressão e tristeza estão ligadas, mas não são a mesma coisa. A depressão pode surgir a qualquer momento, sem motivo específico e pode durar muito tempo, afetando a vida em seu cotidiano. Um dos aspectos mais importantes que diferenciam a depressão da tristeza é a vivência da ‘anedonia’, que é a falta de interesse ou prazer pelas coisas que mais amava. Anedonia é diferente de apatia. Enquanto a apatia se refere à falta de interesse e motivação, a anedonia é a falta de sentimento, especificamente de prazer. Não é incomum que uma pessoa experimente apatia e anedonia simultaneamente”.


O segundo ponto essencial para responder às nossas perguntas é observar como está a relação da pessoa com a sua rotina diária (trabalho, escola, relação com a família e lazer) e se ela tem demonstrado interesse pelas coisas que ela sempre gostou de fazer.


A observação das pequenas atitudes, principalmente as que demonstram afeto, mesmo em um período de tristeza, são determinantes para entender para onde caminha o seu estado emocional.


Todas as pessoas têm o direito de ficar tristes quando alguma coisa indesejada acontece. Este período de tristeza geralmente é associado a um tempo de avaliação e compreensão dos fatos ocorridos, então é compreensível que ela passe um período nesta condição por mais que nosso desejo seja que ela volte ao seu estado natural que nós a conhecemos e supere isso o quanto antes.


É preciso dar para ela o tempo que ela precisa para se recuperar. No entanto, a recuperação deve começar a dar sinais em breve, e ela deve começar a demonstrar vontade de retomar as rédeas da sua vida, e de retomar suas atividades e encontrar motivação para seguir em frente. É preciso estar atento para estes sinais, respeitando o espaço do indivíduo, mas ciente de que ele está em um processo de recuperação e que logo estará em seu estado normal. O ponto é distinguir o momento onde a pessoa perde o controle do seu processo de recuperação e começa a desenvolver efetivamente um quadro preocupante de depressão. A depressão, por natureza, não vai permitir que a pessoa acometida faça um pedido de ajuda claro, e geralmente depende muito daqueles que compõem o convívio social dela (família, amigos, colegas de trabalho) a ação de buscar apoio e tratamento para ela, por isso é importante ficar atento aos sinais. A preocupação com um quadro depressivo surge quando a pessoa tem experimentado alguns dos seguintes sinais e sintomas na maior parte do dia, quase todos os dias, por pelo menos duas semanas:

  • Humor persistente triste, ansioso ou “vazio”;

  • Sentimentos de desesperança e pessimismo;

  • Sentimentos de irritabilidade, frustração ou inquietação;

  • Sentimentos de culpa, inutilidade e desamparo;

  • Perda de interesse ou prazer em hobbies e atividades;

  • Diminuição da energia, fadiga ou sensação de "desaceleração";

  • Dificuldade em se concentrar, lembrar ou tomar decisões;

  • Dificuldade para dormir, acordar cedo pela manhã ou dormir demais;

  • Alterações no apetite ou alterações de peso não planejadas;

  • Pensamentos de morte ou suicídio, ou tentativas de suicídio;

  • Dores pelo corpo, dores de cabeça, cólicas ou problemas digestivos sem uma causa física clara que não alivia mesmo com tratamento.

Trata-se de uma doença silenciosa e que pode ter origem, não somente em situações que desencadeiam episódios de tristeza como os descritos anteriormente, como na genética, em fatores ambientais, histórico de abuso de medicamentos ou drogas, características da personalidade, dentre outras possibilidades, e que fazem com que indivíduos que possuem o que muitos consideram uma vida perfeita e de sucesso, sejam atingidos por esta patologia.

O fato é que os sintomas da depressão são claramente confundidos com os quadros de tristeza, o que gera uma incompreensão popular, onde a tristeza é supervalorizada e a depressão subestimada. A depressão tem raízes e consequências muito mais profundas e que devem ser levadas a sério, e seu tratamento ser iniciado, o quanto antes, com o auxílio de um profissional.

A boa notícia é que a depressão, mesmo os casos mais graves, pode ser tratada. Quanto mais cedo o tratamento começar, mais eficaz ele será. A depressão geralmente é tratada com medicamentos, psicoterapia ou uma combinação dos dois.

Buscar a orientação de um profissional sempre é a melhor recomendação para quando houver qualquer necessidade neste sentido. Diversas Instituições, como aqui no CTBM, possuem um corpo multidisciplinar que irá fazer o acolhimento e dar os devidos encaminhamentos, seja uma terapia com psicólogo ou avaliações psiquiátricas de acordo com o grau de dificuldade do paciente, de forma que toda a atenção necessária seja dispensada para que ele volte o quanto antes ao seu estado natural.


Colaboraram para este texto:



Luciane Lopes Sanches (Psicóloga/Neuropsicóloga) - Coordenadora do setor de Psiquiatria do Centro de Tratamento Bezerra de Menezes.




Conrado Lopes (Comunicação CTBM) com colaboração técnica.

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