Stress, Depressão e Síndrome do Pânico - Armas modernas contra inimigos antigos.
Armas modernas contra inimigos antigos
Aperfeiçoamento no diagnóstico permite melhor identificação e tratamento dos casos de Stress, Depressão e Síndrome do Pânico, males se tornaram mais conhecidos a partir dos anos 80.
Há menos de dez anos, um paciente que chegasse a um consultório médico se queixando de insônia, taquicardia ou perda de apetite certamente retornaria para casa com um receituário de calmantes e vitaminas. E se, mesmo após a administração dos medicamentos, persistissem os sintomas, o mais comum era que o clínico geral desconfiasse da conduta sem, no entanto, conseguir se aprofundar no diagnóstico. Nesta época, poucos profissionais atribuíram os sintomas a quadros de stress, depressão e – menos ainda – síndrome do pânico, doenças que passaram a ser melhor compreendidas a partir do final da década passada. Como resultado desta “descoberta”, os especialistas garantem que o tratamento avançou de forma significativa nos cinco últimos anos.
A dificuldade anterior com o diagnóstico torna impossível fazer um levantamento estatístico da progressão de incidência de stress, depressão e síndrome do pânico (hoje estimadas respectivamente em 50%, 7% a 17% e 2%). Pesquisas realizadas pela Universidade Federal de São Paulo (ex - Escola Paulista de Medicina), Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e Pontifícia Universidade Universidade Católica (PUC) de Campinas apontam um crescimento do número de pacientes com depressão, síndrome do pânico e stress. Isso não quer dizer, no entanto, que atualmente haja mais depressivos ou estressados do que nas décadas de 70 e 80, como apregoam os defensores da tese de que essas doenças constituem “males da vida moderna”. Significa apenas que hoje eles podem ser classificados, em grande medida por que os profissionais de saúde – antes combatentes despreparados contra um inimigo que desconheciam – tornaram-se mais capacitados para avaliar em conjunto os sintomas que isolados pareciam sugerir outras doenças.
Ao contrário do que se pensa, doenças não surgiram como contingência da vida moderna.
Na opinião dos especialistas ouvidos pelo Bezerra de Menezes, essa constatação derruba de vez o mito muito difundido de que o stress e a depressão representam uma contingência exclusiva dos agitados dias de hoje. Embora fatores típicos da sociedade contemporânea como competitividade no trabalho, desemprego, falta de perspectivas profissionais, escassez de tempo para lazer e relaxamento possam agravar ou desencadear, especialmente quadros de stress e de depressão, essas patologias não nasceram por causa deles. Foram apenas “descobertas” com a vida moderna. “Era muito comum um cardiologista, por exemplo, não conseguir brecar a taquicardia de um paciente em síndrome do pânico, simplesmente porque não sabia nada a respeito da doença”, afirma o psiquiatra Marcos Pacheco Toledo Ferraz, professor titular da Universidade Federal de São Paulo.
Se faltava informação a quem deveria tê-la, por força do ofício, entre as pessoas reinava uma completa ignorância. Neste contexto, crises de depressão e síndrome do pânico acabavam sendo associadas a meros problemas de comportamento, fato que deve ter inibido boa parte dos portadores a procurar ajuda especializada. Há sete anos, quando teve a primeira crise de síndrome do pânico, durante um show de rock, a publicitária Cristina Caruso custou a convencer uma amiga de que estava realmente passando mal. “Ela achou que fosse brincadeira. Ao perceber a seriedade, me levou par um hospital, onde permaneci até passarem os sintomas. Na hora os médicos não souberam diagnosticar o que eu tinha. Descobri que era síndrome só um ano depois”, lembra.
“O quadro de pânico como síndrome é recente. O que se ouvia falar era de piripaque ou frescura do paciente. Isso também se verificava com a depressão. O doente que não saía de casa era visto pela família como preguiçoso e sem vontade. Como os profissionais não sabiam diagnosticar, receitavam vitaminas que nada ajudavam no tratamento”, avalia o psiquiatra Tito Paes de Barros Neto, supervisor do Ambulatório de Ansiedades (Amban) do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, para quem a discussão entre os meios acadêmicos e a imprensa tem colaborado para a maior divulgação dessas “doenças modernas” de causa, na maioria das vezes, desconhecidas.
Dados genéticos, psicológicos e ambientais explicam origem da depressão.